"CONCURSO LITERÁRIO 25 DE ABRIL - LIBERDADE"
PROMOVIDO PELA BIBLIOTECA MUNICIPAL DE VALONGO
No nosso Agrupamento foi vencedora a aluna Taynah Fernandes dos Santos do 6ºA
Todos os dias tinha de ir para a escola ao
início da tarde e sair por volta das dezasseis horas e meia. Aprendia muitas
coisas e tinha a obrigação de as saber de cor e salteado se não queria levar
uma reguada nas minhas mãos. Via muitas vezes as minhas colegas sofrerem esse
castigo e quando desviava os meus olhos para as suas mãos, podia reparar na
pele, antes muito branca, depois num estado deplorável de vários tons de
vermelho marcados pela forma retangular do objeto que a professora segurava nas
suas “garras. “Velha chata!” pensava eu muitas vezes, mas nunca tive a coragem
para o dizer.
Estava mais uma vez naquela sala, rodeada pelas
várias crianças da minha idade e também pela “velha chata” que tagarelava sobre
algo a que eu não prestava atenção.
- Clara, podes repetir o que eu estava a dizer?
Não respondi e logo senti aquela dor agonizante
nos meus finos dedos, e lágrimas de dor que teimavam em cair dos meus olhos,
enquanto olhava assustada para as pedras negras a que chamam de olhos naquela
mulher.
- Quero um relatório completo sobre o Sr. Doutor
Marcelo Caetano! - ordenou -Tens até amanhã!
Felizmente era o toque do final das aulas
daquele dia, e todas começaram a sair animadas para a rua enquanto eu ficava a
escrever. Quando terminei, os últimos raios de sol eram ainda visíveis e
iluminavam ainda o chão. Comecei a caminhar desinteressada no que acontecia à
minha volta, pensando na palavra proibida de se dizer nas ruas ou seríamos
apanhados pela PIDE. Quando dei por mim já estava na minha pequena e humilde
casa.
E de repente, era 25 de Abril! Algo de estranho
se passava. Os meus olhos não queriam acreditar no que viam, todos festejavam
em grande alegria gritando a palavra proibida “Liberdade” e vários militares desfilavam
com cravos nas suas armas.”Não à ditadura e sim à democracia” gritavam alguns e
finalmente todo o país se encheu de cor e amor, uma canção ecoou por entre a
população com sorrisos rasgados estampados nas faces. Era o fim do terror que
vivêramos e o início de uma nova oportunidade!
Gaivota
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